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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Eu tenho PSP. O neurologista disse: 
“Não posso fazer nada por você”

Keith Swankie tem uma doença neurológica rara e fatal. Agora, ele está tentando divulgar a paralisia supranuclear progressiva (PSP), uma condição que até mesmo muitos neurologistas falham em diagnosticar.


Foram seus olhos travando ao fechar que inicialmente fizeram Keith Swankie conversar com seu médico. O gerente de supermercado tinha 38 anos e nunca imaginou que os surtos de cegueira seriam os primeiros sintomas de uma condição rara que iria eventualmente matá-lo.
Swankie tem uma doença que quase ninguém já ouviu falar: paralisia supranuclear progressiva (PSP). Geralmente confundida com outras doenças neurodegenerativas como o Mal de Parkinson, a PSP é mais comumente descoberta em necrópsias do que durante a vida. É esta doença que o ator Dudley Moore tinha, e é causade pela morte gradual de células nervosas no cérebro, causando dificuldade no equilíbrio, movimento, visão, fala e deglutição.
Diagnosticar a PSP antes da morte involve montar um quebra-cabeças de informações, eliminando outras doenças e, no caso de Swankie, um clínico discernente. Sua primeira conversa com um especialista não trouxera nenhuma resposta: “O neurologista disse: ‘Eu não posso fazer nada por você’”, lembra o pai de duas filhas.
Então vieram novos sintomas: quedas, tremores, dificuldades para falar, problemas para dormir, irritabilidade. Foi só quando o médico de Swankie estava em uma conferência onde um geriatra falava sobre PSP que as peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar. Foram realizados testes, e em abril de 2012, mais de dois anos depois dos problemas iniciais com a visão, que Swankie foi finalmente diagnosticado. Pelo menos ele tinha um nome para colocar em sua lista de sintomas cada vez mais angustiantes – mas o diagnóstico significava aceitar que ele estava morrendo.
Agora com 42 anos, Swankie lembra do dia dos resultados dos exames. Ele tinha ido ao hospital sem sua mulher Sheelagh e se lembra de voltar para a casa da família em Arbroath, perto de Dundee, e esperá-la chegar em casa do trabalho. “Eu tive que explicar à ela o que aconteceu e o qual era o diagnóstico, e obviamente veio como um grande golpe. Quando eu estava conversando com ela, percebi que as coisas não iam melhorar.”
A pior parte foi contar para as filhas, Nikki de 19 anos e Jordan, de 15. “Adiamos por um tempo na tentativa da nossa ficha cair,” disse ele.
Tal como acontece com qualquer pessoa com PSP, Swankie não sabe dizer com certeza quanto tempo ele ainda tem. A expectativa de vida desde o início da doença é cerca de sete anos, mas descobrir o início parece impossível. Eu tenho a minha própria experiência da doença. Minha mãe tem PSP e de vez em quando meu irmão e eu, relutantemente, temos uma conversa sobre se os primeiros sinais foram quando ela estivera trêmula em um feriado de verão na França. Ou foi ainda antes, quando pensamos que uma cirurgia tinha interferido em seu equilíbrio?
Swankie diz que ele está tentando ser realista sobre seu próprio prognóstico. "Achamos que provavelmente estamos na metade do caminho. Eles costumam dizer de sete a 10 anos, mas meu consultor foi muito honesto e disse cinco a oito anos. É difícil saber que você provavelmente não conduzirá sua filha até o altar ou será avô. É a maior frustração, o que me faz sentir como se estivesse sendo roubado em minha vida.”
A família tenta sair para fazer refeições e convida amigos para visitá-los, mas a PSP coloca limites frustrantes na vida dele. “Em um dia muito ruim, você pode ter dificuldades para sair da cama. Você pode ter dificuldades para comer uma refeição porque os músculos tem espamos e não o deixarão engolir, o que pode levar a engasgos. E ainda tem a incontinência urinária e incontinência intestinal,” diz Swankie.
 Foram sintomas debilitantes como estes que levaram a Dra. Anne Turner, que tinha a doença, a acabar com sua própria vida em 2006 na Suíça – uma história dramatizada mais tarde na TV por Julie Walters. Swankie diz que em dias mais difíceis ele conversa com Sheelagh sobre em que momento decidir optar por “desligar os aparelhos”. Por enquanto, porém, ele quer usar o tempo que tem para falar de PSP.

 Depois de participar de um evento da PSP Association, ele foi perguntado se poderia gravar um vídeo. “Claro, manda ver”, foi sua reação. O vídeo online, “A história de Keith”, mostra entrevistas francas com a família. Swankie espera que isso vá divulgar a doença com a qual muitos médicos provavelmente vão se deparar algum dia durante suas carreiras. Um melhor reconhecimento poderia garantir mais recursos para a pesquisa sobre curas e tratamento, mas também significa que a doença não será incorretamente diagnosticada com tanta frequência, dizem os especialistas.

 “Posso dizer com segurança que muitas pessoas com PSP não são diagnosticadas,” diz o Dr. Ian Coyle-Gilchrist, membro da equipe de neurologistas da Cambridge University que está pesquisando a PSP e doenças relacionadas. “Muitas vezes ela não está sendo diagnosticada, ou as pessoas chamam de Mal de Parkinson ou depressão ou envelhecimento, e algumas pessoas simplesmente estão vivendo em asilos com o rótulo incorreto de demência.”

As estimativas anteriores são de que cerca de 5 em cada 100 mil pessoas tenham PSP, mas Coyle-Gilchrist quer um número para indicar o risco de uma pessoa adquirir a doença durante a vida. As pesquisas tem muito mais potencial também, diz ele, porque podem resolver outros problemas neurológicos. Diferentemente da maioria das formas de demência, “quando vimos alguém com a PSP típica, podemos ter certeza do que está acontecendo no cérebro, o crecimento de uma proteína anormal chamada tau. Esta mesma proteína também influi no Parkinson e no Alzheimer. Desta forma, nós temos uma oportunidade única de estudar como a proteína tau afeta nosso cérebro e como podemos tentar pará-la”.
O neurologista está otimista que as pesquisas irão produzir novas maneiras de frear o desenvolvimento da paralisia supranuclear progressiva. Algumas maneiras de lidar com os sintomas já estão disponíveis, como medicamentos para ansiedade e botox para as pálpebras enrijecidas, diz ele. O problema é que, assim como a própria doença, eles não são largamente conhecidos.
 “Há muito o que fazer para mudar as coisas agora, para reduzir o estrago e melhorar a qualidade de vida, enquanto pesquisadores trabalham à fim de encontrar a cura,” diz ele.

Reportagem original em:



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